UM MAL-ENTENDIDO
- bolacho clube
- 1 de out. de 2024
- 2 min de leitura

Se bem me lembro, ele já estava voltando de viagem, dezesseis horas dirigindo, o cansaço já havia tomado conta, e a ansiedade já estava ocupando seu espaço. Finalmente, isso estava prestes a acabar, pois só lhe restavam aproximadamente cinco quilômetros até sua casa e seu merecido descanso. Era isso que ele pensava, claro, pois a vida estava prestes a lhe pregar uma peça. Para sua surpresa, assim que virou a esquina da quitanda do seu Nestor, avistou um carro da polícia parado e dois policiais, quase como se estivessem ali esperando por ele, sinalizando para que ele encostasse. Com certo desgosto estampado no rosto, ele parou o carro no meio-fio e abriu um sorriso falso. Um dos guardas se aproximou, e ele abaixou o vidro: - Boa tarde, seu guarda, tudo bem? - Documento e habilitação, por gentileza. Prontamente, ele pegou tudo no porta-luvas e entregou ao guarda. Depois de alguns minutos, o policial, em tom de indignação, perguntou: - Você está rodando com essa habilitação? - Sim, senhor. - Você sabe que venceu né? - Claro que sim, todas as pequenas conquistas são uma vitória, desde uma habilitação até a conquista de uma casa, por exemplo. Tudo isso é vencer. - Pois bem, o senhor vai conquistar uma multa bem gorda também. Estou falando que esse documento está vencido há dois meses, o senhor não renovou como deveria. - Mas isso não é culpa minha. Fui três vezes ao departamento de trânsito, mas o trabalho que fazem é tão ruim que fui impedido todas as vezes de renovar. Não posso levar a culpa por uma coisa que não tenho nada a ver, a culpa é toda deles. - Mas o que aconteceu? - O senhor acredita que não me deixaram renovar porque alegaram que eu reprovei no exame de vista? Isso é um absurdo! Se não renovassem a carteirinha da biblioteca por esse motivo, eu entenderia. Agora, dirigir? Eu uso mãos e pés! - O senhor tem algum tipo de problema? Preciso que o senhor desça do carro para que possamos fazer uma vistoria melhor no veículo. - Mas é claro, não quero ser eu a pessoa que vai atrapalhar o importantíssimo trabalho que a polícia precisa desempenhar, esse incrível trabalho de mecânico. - Você é muito folgado, cidadão. Vou acabar te detendo por desacato. - Você tem certeza disso, seu policial? Vai me prender? Logo eu, o juiz mais importante da cidade? Dedicado e respeitado, quero ver você tentar. - Meu Deus, me desculpe, não sabia que o senhor era juiz. Por que não disse logo? Vamos deixar o senhor em paz, e desculpe o incômodo. Os policiais rapidamente foram embora, e ele ficou ali, pensando que jamais, em toda a sua vida, poderia imaginar que a polícia teria tanto medo e respeito por juízes de futebol da várzea. Talvez um mal-entendido? Ou regalias que o status da profissão proporciona...
Conto escrito por: Lucas Zanata
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